Dr. André Luiz Luquini Pereira

Dr. André Luquini
Reumatologista e Clinico Geral - CRM-SP: 129.471, RQE: 43560
Assistente Técnico em perícias médicas
Doutorando na University of British Columbia - Vancouver, Canada
Assistente de Pesquisa no Arthritis Research Canada

Contato:
*E-mail: andreluquini@yahoo.com.br

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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

PRODUTIVIDADE




    Fala pessoal, tudo bem?
    Hoje vou inaugurar aqui no blog uma série de postagens pra esclarecer os principais conceitos envolvidos nas relações entre o adoecimento e o trabalho. Se tiver alguma dúvida, por favor fique à vontade para perguntar! .
     O primeiro conceito que vou abordar é o conceito de PRODUTIVIDADE. Parece simples, não é? Quantidade de produto ou serviço por unidade de investimento (capital, trabalho, tecnologia), em certo tempo. O número de peças que um trabalhador ou uma máquina produzem por jornada; o número de chamadas realizadas ou de vendas confirmadas por um operador de telemarketing ativo por mês. .
     Para medir a produtividade bastaria contar quantos produtos foram fabricados ou quantos serviços foram realizados e dividir pelo tempo. Quanto mais rápido cada parafuso é apertado, mais carros serão produzidos por mês. E por aí vai.
     A questão é que a ética em pesquisa não permite que a produtividade seja medida objetivamente em nível individual (quer dizer, para cada trabalhador) no ambiente de trabalho, porque isso poderia expor os participantes da pesquisa ao risco de discriminação e represálias tanto pelo empregador quanto pelos colegas de trabalho. .
     Por isso a produtividade é comumente estimada através da produção coletiva ou subjetivamente por estimativa relatada pelo próprio trabalhador. Há vários questionários para medir a produtividade e seu possível decréscimo (também conhecido como presenteeísmo, que será abordado em outro post) no contexto de várias doenças. Os mais utilizados são: WIS, WPAI, WLQ, SPS e WHO-HPQ. .
     Hoje sabemos que o impacto econômico da Artrite Reumatóide e outras doenças é determinado mais pela queda de produtividade entre os doentes que continuam trabalhando do que a relacionada aos que param de trabalhar. Entretanto, é uma cascata. Essa queda na produtividade é um importante preditor de afastamento do trabalho maior que 6 meses, e de incapacidade laborativa permanente.

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sexta-feira, 27 de abril de 2018

INFORMAÇÕES AOS PACIENTES – REUMATOLOGIA

O QUE É REUMATISMO?
     O termo reumatismo surgiu de uma crença antiga de que as doenças eram originadas de alterações nos fluidos do corpo. É um termo inespecífico que gera muitas confusões. Atualmente preferimos sempre dizer o nome específico da doença. 

O QUE É DOENÇA AUTO-IMUNE?
     É um grupo de doenças em que o sistema imunológico (leucócitos ou células brancas do sangue) vê erradamente uma parte de seu corpo como se fosse um invasor, um vírus ou uma bactéria por exemplo, e reage produzindo anticorpos e substâncias pró-inflamatórias, que podem gerar lesões mais ou menos graves. São exemplos: hipotireoidismo / tireoidite de Hashimoto, lúpus, artrite reumatóide, psoríase, vitiligo. O tratamento geralmente se baseia em medicamentos imunossupressores, que diminuem a imunidade do paciente, controlando os danos desencadeados pelas células imunológicas. 

***ABAIXO, ALGUMAS PATOLOGIAS QUE SÃO TRATADAS PELO REUMATOLOGISTA:

OSTEOARTRITE OU ARTROSE
     É o desgaste das articulações (juntas), sobretudo das cartilagens, com alterações secundárias nos ossos que ficam próximos a essas cartilagens. Está relacionada com fatores como sobrecarga articular, herança genética, idade, sexo, agressões às articulações traumáticas, metabólicas ou inflamatórias.

FIBROMIALGIA
     É uma síndrome em que há uma amplificação da percepção da dor no cérebro, com dor muscular difusa em todo o corpo, acompanhada por fadiga, sono não reparador e frequentemente tem relação com alterações no humor, como depressão e ansiedade. 

ARTRITE REUMATÓIDE
     É uma doença auto-imune que evolui com inflamação intensa das articulações, com proliferação de uma camada de células que recobre a maioria das articulações: a sinóvia. Se não for adequadamente tratada, há risco de deformidades.

LÚPUS
     É uma doença auto-imune que acomete mais frequentemente mulheres jovens, e pode acometer só a pele (LÚPUS CUTÂNEO) ou o corpo todo (LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO). O diagnóstico requer um conjunto de sinais e sintomas, como artrite, rash malar (um tipo de vermelhidão nas bochechas, em "asa de borboleta"), úlceras orais, inflamação nos rins (que pode se manifestar como sangue, pus ou espuma na urina), convulsões, alucinações repentinas, destruição de células do sangue por anticorpos, e presença de anticorpos específicos. Cabe ressaltar que um exame de FAN positivo NÃO é sinônimo de lúpus, devendo ser investigado pelo reumatologista.

ESPONDILITE ANQUILOSANTE
     É uma doença que acomete mais homens que mulheres, geralmente se inicia antes dos 40 anos de idade, e caracteriza-se por dor inflamatória e rigidez na coluna vertebral e sacroilíacas, mas pode também inflamar outras articulações como tornozelos e joelhos, e também áreas próximas às articulações, nas inserções dos tendões nos ossos (entesites), e olhos (uveítes anteriores). Se não for adequadamente tratada, há risco de fusão das vertebras com rigidez permanente e deformidades na coluna vertebral.

FEBRE REUMÁTICA
     É uma doença relacionada com a resposta exagerada do sistema imunológico a certas bactérias comuns em infecções de garganta, sinusites e otites (estreptococos). Essa resposta exagerada pode desencadear artrites (geralmente no padrão migratório, isto é, quando melhora uma junta, piora outra), febre, manchas no corpo e lesões nas valvas do coração. O tratamento geralmente visa a evitar a exposição imunológica a essas bactérias, e pode ser necessário o uso periódico de Benzetacil. Cabe ressaltar que um exame de ASLO positivo não é sinônimo de Febre Reumática, devendo ser investigado pelo pediatra ou pelo reumatologista.

ARTRITE PSORIÁSICA
     É uma doença auto-imune relacionada com o acometimento articular da psoríase (doença de pele). A artrite pode aparecer antes das lesões cutâneas, o que dificulta o diagnóstico.

ESPONDILOARTROPATIA ENTEROPÁTICA
     É o acometimento articular relacionado a doenças inflamatórias intestinais como a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa. O quadro clínico lembra a espondilite anquilosante, e o tratamento envolve imunossupressores.

GOTA
     É a artrite relacionada com o excesso de ácido úrico no sangue, e consequente deposição dos cristais de ácido úrico nas articulações, com uma reação inflamatória intensa. Podem ocorrer depósitos de ácido úrico fora das articulações, chamados tofos e formação de cálculos renais. As crises geralmente estão relacionadas com a alimentação (proteínas ricas em purinas: carne vermelha, embutidos, frutos e peixes do mar, vísceras, grãos ricos em proteínas; e álcool), mas também podem ser desencadeadas por infecções, interrupção do tratamento e diuréticos. Durante as crises o nível de ácido úrico no sangue pode estar normal.  

BURSITES E TENDINITES
     São inflamações das bursas e tendões, geralmente por sobrecarga dessas estruturas por movimentos repetitivos, em posições erradas, com pesos excessivos. O tratamento envolve medicamentos, fisioterapia, readequação do trabalho e atividades físicas orientadas e regulares.

ESCLEROSE SISTÊMICA
     É uma doença auto-imune caracterizada por espessamento da pele, sobretudo mãos e pés, afilamento dos lábios e diminuição da abertura da boca (microstomia), dilatação de vasos sanguineos na pele (teleangiectasias), mudança de cor nas extremidades com o frio (fenômeno de Raynaud) e artrites. Pode haver também acometimento dos pulmões e esôfago, com falta de ar, refluxo gastro-esofágico e sensação de empachamento após as refeições.

SÍNDROME DE SJÖGREN
     Doença sistêmica que caracteriza-se por olhos secos, boca seca, secura vaginal, vasculite e artrites ou artralgia. Pode haver acometimento pulmonar. A doença pode vir sozinha ou acompanhando outras doenças auto-imunes, sobretudo o lúpus e a artrite reumatóide.

MIOSITES
     São doenças caracterizadas por inflamação nos músculos. As principais são a Polimiosite, em que há fraqueza nos ombros e quadris e a Dermatopolimiosite, em que além do quadro da polimiosite há também vasculite cutânea. Quando há acometimento pulmonar intersticial, deve-se suspeitar de Síndrome Anti-Sintetase. É importante descartar neoplasias nesses pacientes. Cabe ressaltar que um exame de CPK alterado NÃO é sinônimo de miosite, devendo ser investigado pelo reumatologista.

VASCULITES
     São doenças em que há inflamação dos vasos sanguíneos. São doenças raras, que podem necessitar imunossupressão intensa e de rápido início. As mais conhecidas são: Arterite de Takayasu, Doença de Behçet, Poliarterite Nodosa, Poliangeíte Microscópica, Granulomatose de Wegener, Doença de Churg-Strauss Vasculite Crioglobulinêmica e Arterite de Células Gigantes.

SAF (SÍNDROME ANTI-FOSFOLÍPIDE)
     É uma condição clínica em que há produção pelo sistema imunológico de anticorpos que aumentam o risco de coagulação sanguínea, com tromboses arteriais e/ou venosas. Pode se apresentar isolada ou em associação com outras doenças auto-imunes, sobretudo o lúpus. Caracteriza-se por tromboses repetidas ou abortamentos repetidos (por trombose placentária).

OSTEOPOROSE
     É uma condição clínica em que há perda da densidade óssea e perda da qualidade estrutural do tecido ósseo, com risco de fraturas. É comum entre as mulheres pós-menopausa, mas pode acometer homens e pacientes jovens em uso de alguns medicamentos, como corticóides e anticonvulsivantes. 

* DR. ANDRÉ LUIZ LUQUINI PEREIRA - REUMATOLOGISTA e CLÍNICO GERAL - CRM-SP: 129471 – What'sApp: (19)98115-4863
SITE: www.clinicaluquini.wixsite/clinicaluquini    /     BLOG: www.drandreluquini.blogspot.com.br    /     E-MAIL: andreluquini@yahoo.com.br
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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

SÍNDROME DE BERTOLOTTI





     Paciente com lombalgia há 2 anos. A Tomografia Computadorizada da coluna lombar mostrou uma vértebra de transição lombossacral com megapófise transversa neo-articulada com o sacro, incluindo sinais degenerativos, o foco da dor. (a alteração já era visível ao Raio-X simples). A neurocirurgia indicou neuroablação percutânea por radiofrequência para alívio dos sintomas. 
     Essa variante da anatomia é muito comum, e na maioria dos casos é assintomática. Quando há dor, caracteriza a Síndrome de Bertolotti, descrita em 1917. Pode ser confundida com uma sacroileíte, síndrome facetária e hérnia de disco. A primeira linha de tratamento é a conservadora e visa a prevenir complicações degenerativas discais. Há alternativas intervencionistas.


O que é a Reumatologia?






     A palavra Reumatismo foi introduzida por Galeno no século II depois de Cristo. Provém da palavra “rheos” que significa “fluir” uma vez que, naquela época, se acreditava que o reumatismo aparecia pelo fluxo de um “humor” vindo do cérebro até as articulações. O nome da doença Gota vem desta maneira de se pensar. 

     O conceito de que as doenças reumáticas são as que acometem o sistema osteo-articular nem sempre é correto, pois muitos pacientes podem não apresentar queixas articulares, ósseas ou de tecidos peri-articulares, mas sim de órgãos como rins, coração, pulmões, pele, etc. Ao contrário do que se diz popularmente, não são "doenças de velho", mas podem acontecer em qualquer idade, inclusive em crianças recém-nascidas. 
     Os termos "reumatismo" ou "artrite" não são diagnósticos. Quando alguém diz que tem artrite significa apenas que tem inflamação da articulação e essa é uma manifestação comum às doenças reumáticas mais prevalentes. 
     Como o tratamento dependerá da doença e do paciente em si, o diagnóstico correto e precoce e o tratamento adequado são a base para um prognóstico favorável, visando a evitar complicações incapacitantes, irreversíveis e até mesmo fatais. Por isso, a busca do especialista é fundamental.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

PROTRUSÃO DISCAL - HÉRNIA DE DISCO




Dores na coluna com irradiação para a perna, com adormecimento, formigamento, sensação de choque ou fraqueza na perna: fique atento, pode ser uma hérnia de disco na coluna lombar ou uma protrusão do disco no neuroforame (canal entre as vértebras por onde passa uma raiz neural). Evite impactos, sobrecarga excessiva, hiperflexão da lombar, longos períodos de pé ou sentado, e procure logo um especialista (reumatologista, ortopedista ou neurocirurgião).


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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

terça-feira, 25 de março de 2014

Gota e pseudogota (ou condrocalcinose)

 
Gota

A gota é uma patologia causada pela deposição de cristais de monourato de sódio (ou cristais derivados do ácido úrico) nas articulações, causando um quadro de inflamação, geralmente em uma ou poucas articulações. Frequentemente está associada a cálculos renais de ácido úrico.


A crise de gota geralmente é desencadeada por infecções, sobrecarga articular, cessação do uso dos medicamentos para redução do nível de ácido úrico sanguíneo ou abusos alimentares. O paciente com gota deve evitar em sua alimentação, resumidamente, carnes vermelhas, miúdos, frutos do mar, feijão e outras leguminosas e álcool. Se mal tratada, evolui para depósito dos cristais de ácido úrico em outros tecidos do corpo, como os chamados tofos, que levam a distúrbios estáticos e funcionais.


As crises geralmente respondem a antiinflamatórios, colchicina e gelo local, mas em alguns casos podem ser necessários corticosteróides via sistêmica ou por infiltração intra ou periarticular.




Pseudogota / Condrocalcinose



A pseudogota, também chamada condrocalcinose, é uma afecção reumatológica causada pela deposição de pirofosfato de cálcio dihidratado, que se caracteriza por ataques intermitentes resultantes da aglomeração desses cristais.


Pode aparecer em indivíduos portadores de outras doenças, como nos que apresentam valores extremamente elevados de cálcio sanguíneo, devido ao aumento da síntese hormonal da paratireóide (hipertiteroidismo), ou uma taxa exacerbada de ferro no sangue (hemocromatose), bem como níveis extremamente baixos de magnésio (hipomagnesemia).


As manifestações clínicas apresentam uma ampla variação. Alguns pacientes apresentam artrite com dor, geralmente nos joelhos, nos pulsos em articulações maiores. Outros indivíduos sofrem de dor e rigidez crônicas e persistentes nas articulações dos membros superiores e inferiores, que pode ser confundida com a artrite reumatóide. As crises agudas habitualmente são menos severas do que as da gota. Em muitos pacientes não há a presença de dor entre as crises, enquanto outros não apresentam dor em momento algum, embora haja um grande acúmulo de cristais nas articulações.


Chega-se ao diagnóstico por meio da aspiração (com agulha) de líquido da articulação inflamada. Neste, por sua vez, observa-se cristais formados de pirofosfato de cálcio ao invés de uratos. Exames radiográficos também podem fortalecer o diagnóstico, uma vez que os cristais em questão não deixam o raio-x ultrapassá-los, sendo visualizados como depósitos brancos na radiografia.
 

Tendinites e bursites



     A tendinite é a inflamação de um tendão, que é uma estrutura fibrosa que une o músculo ao osso. Em muitos casos, a tendinite (degeneração do tendão) também está presente.

Causas
     A tendinite pode acontecer como um resultado de lesão, excesso de uso ou envelhecimento, uma vez que o tendão vai perdendo a elasticidade. Também pode ser vista em pessoas com doenças sistêmicas, como artrite reumatóide ou diabetes.
     A tendinite pode surgir em qualquer tendão, mas alguns locais mais freqüentemente afetados incluem:
  • Cotovelos (epicondilites);
  • Calcanhares (tendinite de Aquiles);
  • Ombros; e
  • Punhos.

     Bursite é a inflamação da bursa (uma "bolsa" cheia de líquido que tem a função de proteger os tecidos ao redor das articulações do corpo), que se localiza principalmente nos ombros, cotovelos, quadris e joelhos.
     As inflamações nos tendões podem ocorrer por diferentes motivos, como excesso de uso (esporte) e sobrecarga, processos traumáticos, e até mesmo em função de outras doenças, como a artrite reumatóide.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Reportagem publicada no jornal Correio Popular de Campinas - SP, em 30/06/13.

Fibromialgia, uma doença 'invisível'


iG Paulista - 01/07/2013 05h00 |
Inaê Miranda |
igpaulista@rac.com.br


Foto: Érica Dezonne/AAN
O reumatologista André Luiz Luquini Pereira: doença não tem cura, mas pode ter efeitos
reduzidos
 
     Braços, pernas, coluna. Não há parte do corpo que não possa doer. E junto com as dores surgem sintomas como cansaço, dificuldade de concentração, ansiedade, formigamentos e dormências, depressão, tontura e alterações intestinais. É normalmente com esses relatos que os pacientes com fibromialgia chegam aos consultórios médicos. As dores podem se arrastar por meses ou anos até que o diagnóstico seja definido, já que com a ausência de lesão nos tecidos fica mais difícil detectar o problema por meio de exames. Embora ainda não tenha sido descoberta a cura, em muitos casos, os pacientes melhoram com o tempo e os sintomas retrocedem quase totalmente.


     Os médicos definem a fibromialgia como uma síndrome — conjunto de sinais e sintomas — que se manifesta com dores no corpo. No Brasil, ela atinge cerca de 3% da população. Ocorre com mais frequência em mulheres do que homens e costuma surgir entre os 30 e 55 anos. Porém, existem casos em pessoas acima desta faixa etária e também em crianças e adolescentes. Segundo o reumatologista e clínico geral da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), André Luiz Luquini Pereira, ainda não existe uma causa definida da doença, mas há algumas pistas.

     “Estudos mostram que os pacientes apresentam uma sensibilidade maior à dor do que pessoas sem a doença. É como se o cérebro das pessoas com fibromialgia interpretasse de forma exagerada os estímulos, ativando todo o sistema nervoso para fazer a pessoa sentir mais dor. É uma dor diferente, em que não há lesão no corpo, e, mesmo assim, a pessoa sente dor”, explica o reumatologista. De acordo com Pereira, a fibromialgia pode aparecer depois de eventos graves, como um trauma físico, psicológico ou infecções graves. E situações como excesso de esforço físico, exposição ao frio, estresse, ou infecções podem piorar as dores.


     Isso ocorre porque a interpretação da dor no cérebro sofre varias influências, entre elas das emoções. Sentimentos como alegria e felicidade, por exemplo, podem diminuir o desconforto da dor. A tristeza e a infelicidade podem aumentar este desconforto. “Em parte isto é explicado pelos neurotransmissores — substâncias químicas cerebrais que conectam as células nervosas —, como a serotonina e a noradrenalina, que têm papel importante na interpretação da dor e na depressão”, diz. Além de enfrentar as dores e todos os outros sintomas, o paciente enfrenta dificuldades nos relacionamentos cotidianos, porque tornam-se inseguros quanto ao desempenho pessoal, o que gera um estado crônico de revolta em relação a sua saúde.
 
Diagnóstico difícil

     Por se tratar de uma doença em que não ocorre lesão dos tecidos, como inflamação ou degeneração, os exames laboratoriais e exames de imagem não detectam nenhuma alteração, o que muitas vezes retarda o diagnóstico, segundo os especialistas. “Na prática clínica, não há como provar que a pessoa está sentindo dor crônica. A reação corporal é muito diferente do que na dor aguda. O paciente não está agitado, suando frio, gritando como acontece em um infarto ou uma cólica renal”, afirma o reumatologista. As informações do paciente e o olhar atento do médico são essenciais para se chegar à raiz do problema. “O médico pode pedir exames para excluir doenças que se apresentam de forma semelhante à fibromialgia ou ainda para detectar outros problemas que podem ocorrer junto e influenciar na sua evolução.”

Tratamento

     Apesar de ser considerada uma condição médica crônica, que pode durar por toda a vida, os sintomas podem ser tratados e o paciente pode voltar a ter qualidade de vida. Entre as medicações, os antidepressivos e neuromoduladores são os mais indicados. Eles atuam aumentando a quantidade de neurotransmissores no Sistema Nervoso Central. “Os anti-inflamatórios e os analgésicos simples não são eficazes na fibromialgia, pois não conseguem regular o cérebro para diminuir a sensação exagerada de dor, além de aumentarem o risco de complicações gastrointestinais e renais”, alerta Pereira.


     As atividades físicas também apresentam excelentes resultados no alívio das dores e dos sintomas da fibromialgia. Entre os mais indicados estão os aeróbicos no solo, como caminhadas, ou na piscina, como hidroginástica. Mas o médico alerta que os exercícios também devem ser feitos seguindo as recomendações de um profissional. Outra medida considerada eficaz é a psicoterapia cognitiva-comportamental. “Na fibromialgia, a terapia pode auxiliar o paciente a entender e interpretar melhor suas atitudes frente à dor e demais sintomas.”


     Há 10 anos, a projetista Elisabete Forti convive com a fibromialgia. Segundo ela, foram necessários cinco anos até que os especialistas dessem o diagnóstico da doença. “Sentia dores nas costas, ia ao ortopedista e ele tratava como coluna. Ia em outro médico e ele me dizia que era bursite. Cada um falava uma coisa diferente. Mas era uma dor que não tinha explicação. Doía o ombro, o pescoço, a lombar.”


     Depois de receber o diagnóstico de fibromialgia de um neurologista, Elisabete passou a tratar a doença com medicações, atividades físicas e mudança na alimentação. “No começo, quando tinha crises fortes, tomava muito remédio, alguns à base de morfina. Depois, comecei a usar alimentos mais naturais e também faço pilates. Sinto que melhorou bastante e eliminei 90% dos remédios. Às vezes, quando estou irritada, triste, ou quando muda o tempo as dores aparecem mais fortes, mas estou aprendendo a lidar com ela”, afirmou


Texto reproduzido sob autorização.